sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pra Ouvir: O Melhor de 2011!

O Melhor de 2011 by Lucas D'Aloia on Grooveshark

Lavar a alma



Existe uma tribo na África (ou na Amazônia, no Nepal, ou em qualquer outro lugar exótico), que tem como costume no último dia do ano fazer um ritual de preparação para o novo ano que vai começar.
Eles tomam um tipo de chá que, dizem, tem o poder te fazer reviver em algumas horas, todos os sentimentos que você viveu durante o ano todo. A idéia do ritual é trazer a tona tudo o que você foi escondendo la no fundo do peito, durante um ano todo de sentimentos e acontecimento bons e ruins.
O ritual em si parece ser bastante doloroso. Não deve ser nada agradável reviver todas as coisas ruins que nos aconteceram, reviver a dor, o sofrimento, a mágoa. Mas por outro lado, ele te prepara para um ano novo, cheio de possibilidades. É um ritual que literalmente lava a sua alma, limpa tudo! E te da a possibilidade de começar o novo ano zerado.
Eu acho que se eu tenho algum pedido pra 2012, é esse! Que mesmo sem tomar esse chá, eu consiga entrar no novo ano de alma lavada. Que no dia 31 de dezembro eu consiga me lembrar de tudo de ruim que me aconteceu durante o ano, consiga reviver todo tipo de sentimento ruim que passou pela minha cabeça e pelo meu coração. Que no dia 31 de dezembro eu consiga abandonar em 2011, tudo o que não vai ter serventia em 2012, incluindo sentimentos, dores, pessoas e amores não resolvidos!  Que eu consiga realmente lavar a minha alma, e entrar em 2012 completamente limpo, pronto pra viver tudo de melhor que esse ano puder me oferecer.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um pouco de "sabedoria"

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes por que precisarás passar, para atravessar o rio da vida 

- ninguém, exceto tu, só tu. 
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o"

Nietzsche e outros mestres em "Sábio Amor"


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Lisboa não mudou"

Lisboa não mudou, eu mudei
e desde então eu continuo tentando me encontrar
continuo tentando voltar a ser o que eu era
continuo tentando acreditar
sonhar
amar
viver
mas já não acredito, não sonho, não amo e não vivo

e Lisboa continua la, não muda.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Convenção dos feridos por amor



Disposições gerais :

A – Em se considerando que está absolutamente correto o ditado “tudo vale no amor e na guerra”;

B – Em se considerando que na guerra temos a Convenção de Genebra, adotada em 22 de agosto de 1864, determinando como os feridos em campo de batalha devem ser tratados, ao passo que nenhuma convenção foi promulgada até hoje com relação aos feridos de amor, que são em muito maior número;

Fica decretado que:

Art. 1 – todos os amantes, de qualquer sexo, ficam alertados que o amor, além de ser uma benção, é algo também extremamente perigoso, imprevisível, capaz de acarretar danos sérios. Conseqüentemente, quem se propõe a amar, deve saber que está expondo seu corpo e sua alma a vários tipos de ferimentos, e não poderá culpar seu parceiro em nenhum momento, já que o risco é o mesmo para ambos.

Art. 2 – Uma vez sendo atingido por uma flecha perdida do arco de Cupido, deve em seguida solicitar ao arqueiro que atire a mesma flecha na direção contrária, de modo a não se submeter ao ferimento conhecido como “amor não correspondido”. Caso Cupido recuse tal gesto, a Convenção ora sendo promulgada exige do ferido que imediatamente retire a flecha do seu coração e a jogue no lixo. Para conseguir tal feito, deve evitar telefonemas, mensagens por internet, remessa de flores que terminam sendo devolvidas, ou todo ou qualquer meio de sedução, já que os mesmos podem dar resultados a curto prazo, mas sempre terminam dando errado com o passar do tempo. A Convenção decreta que o ferido deve imediatamente procurar a companhia de outras pessoas, tentando controlar o pensamento obsessivo “vale a pena lutar por esta pessoa”.

Art. 3 – Caso o ferimento venha de terceiros, ou seja, o ser amado interessou-se por alguém que não estava no roteiro previamente estabelecido, fica expressamente proibida a vingança. Neste caso, é permitido o uso de lágrimas até que os olhos sequem, alguns socos na parede ou no travesseiro, conversas com amigos onde pode-se insultar o antigo(a) companheiro(a), alegar sua completa falta de gosto, mas sem difamar sua honra. A Convenção determina que seja também aplicada a regra do Art. 2: procurar a companhia de outras pessoas, preferivelmente em lugares diferentes dos freqüentados pela outra parte.

Art. 4 – Em ferimentos leves, aqui classificados como pequenas traições, paixões fulminantes que não duram muito, desinteresse sexual passageiro, deve-se aplicar com generosidade e rapidez o medicamento chamado Perdão. Uma vez este medicamento aplicado, não se deve voltar atrás uma só vez, e o tema precisa estar completamente esquecido, jamais sendo utilizado como argumento em uma briga ou em um momento de ódio.

Art. 5 – Em todos os ferimentos definitivos, também chamados “rupturas”, o único medicamento capaz de fazer efeito chama-se Tempo. Não adianta procurar consolo em cartomantes (que sempre dizem que o amor perdido irá voltar), livros românticos (cujo final é sempre feliz), novelas de TV ou coisas do gênero. Deve-se sofrer com intensidade, evitando-se por completo drogas, calmantes, orações para santos. Álcool só é tolerado em um máximo de dois copos de vinho por dia.

Determinação final : os feridos por amor, ao contrário dos feridos em conflitos armados, não são vítimas nem algozes. Escolheram algo que faz parte da vida, e assim devem encarar a agonia e o êxtase de sua escolha.

E os que jamais foram feridos por amor, não poderão nunca dizer: “vivi”. Porque não viveram.

(Paulo Coelho)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

"Por que a Bíblia me diz assim"

"Por que a Bíblia me diz assim" traz a tona o conflito real entre a homossexualidade e a religião, e dos inevitáveis (será?) conflitos que advém quando os dois se cruzam. Controversos, inquientantes, mas ainda assim fascinantes, estes dois temas mexem com as estruturas psicológicas de muita gente por todo o mundo. Existe distância tão grande entre uma orientação sexual e a religião? Este belo documentário joga por terra os paradigmas estabelecidos durante anos na sociedade e mostra que onde há amor ali também estará a espiritualidade.

terça-feira, 28 de junho de 2011

"Minha Vida de Solteira"

Quando eu nasci, Deus deve ter olhado pra mim e dito: é com ela que eu vou fuder. A vida me fode de tantas maneiras que já daria pra escrever o Kama sutra 2 com tudo que ela já fez comigo, sem namorado, sem emprego, sem dignidade, sem porra nenhuma. Eu tô num estado de abandono tão grande que se eu ver um rato no chão eu pego no colo e faço carinho.

A solteirisse é uma das pragas que tão impregnadas em mim e é daquele tipo de praga que não sai nem com descarrego de 1000 demônios e banho de cachoeira que solta água benta, então ninguém melhor do que eu no alto do meu desespero pra falar de solteirisse nessa época tão linda pra uns e tão nefasta pra outros que é o temido dia dos namorados.

Eu acho muito interessante aquele pessoal que fala: ”eu tô bem solteira, to curtindo a vida”. Não, você não está bem solteira, você tá é doida pra sentar numa pica. Ficar no sofá vendo filme em posição fetal ingerindo carboidrato e sentindo pena de si mesma não é bem o que eu chamo de curtir a vida. Tudo bem, pode até ser que você esteja bem mesmo solteira, a felicidade é algo muito subjetivo, mas nesse caso você de certo deve ter saído de um relacionamento longo e bla bla bla, esse comentário foi pras super encalhadas que ficam se fazendo de durona.

O tipinho de pessoa que diz que tá bem solteira é aquele que vai pra boate dizendo “só vim pra dançar” HAHAHA , a menos que você seja da cia de dança do Carlinhos de Jesus ou stripper, essa desculpa não cola, meuamô. Se você quisesse mesmo só dançar, teria ficado no seu quarto pulando ao som de Lady GaGa. A pessoa quer convencer alguém que ficou arrumando o cabelo, fez uma maquiagem arrasadora, saiu de casa num puta salto, gastou dinheiro de entrada pra dançar? filha, quer me enganar me dá um doce.

Eu percebi que eu tô meio que me rebelando contra casal. Taí, esse post é um desabafo, eu podia até dizer que é um pedido de socorro: ou alguém me pega, ou alguém me interna antes que eu MATE um desses infelizes que tão se a-tre-vendo a serem felizes, e não contentes ainda querem esfregar isso na minha cara, odeio vocês e quero que morram lenta e dolorosamente.

O pior é que eu não posso nem dizer que sou mal amada, porque né, pra ser ”mal amada” alguém ainda teria que estar me amando, mal mas amando (a mesma coisa se aplica ao mal comida). Um dia uma amiga me perguntou, “mas, natália, como assim você não arranja namorado por nada, e os lugares que você frequenta?”, eu falei “como assim lugares?”, e ela: “ué, mas aonde você costuma procurar?”

- Como assim procurar, vanessa?
- Procurar namorado… aonde voce procura?
-Mas como assim, eu tinha que estar procurando? é o que isso, é uma caçada?

Me imaginei saindo de casa com uma espingarda em um jipe procurando a “presa”, procurar namorado? isso envolve esforço físico e eu sou sedentária. Eu tô aqui em casa, ele não pode bater na porta? ou sei lá, esbarrar na rua e se apaixonar por mim instantâneamente? Gente será que é demais querer que alguem apareça do nada? cadê o plano que disseram que Deus tinha preparado pra mim, caralho. Xavecar: essa palavra nem existe no meu dicionário, não existe tanto que eu nem sei mais como se fala hoje em dia e tô usando uma expressão, sei lá, de 1996, ”xavecar” tsc tsc…

Eu não consigo flertar. Não dá. O cara me encara eu já fico pensando: “o que que esse cara quer? sequestro, meu fígado ou meu rim? deve ter catarata…”, ou sei lá, eu penso que tô com uma remela no olho, uma meleca no nariz, um piru na testa, que desenvolvi um terceiro olho, ou que ele tá chocado com a assimetria do meu rosto. É, tô começando a achar que o problema é comigo. Quase comprei um livro de autoajuda esses dias mas eu parei pra pensar: se for pra eu receber ajuda que seja de alguém que preste, né? se fosse pra ter conselho porcaria eu pedia a opinião de algum padre.

Eu falo mas eu acho que se eu tivesse um relacionamento nao ia durar muito, sabe. Me cobre tudo, até o dinheiro do sexo, mas não me cobre amor. Eu não amo nem a mim mesma como é que eu vou amar você? Seria um relacionamento maravilhoso, sem amor e sem desespero.  

(Por @nataliaporra)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Everything But The Girl

Troubled Mind I Don't Understand Anything Missing Come On Home Don't Let The Teardrops Rust Your Shining Heart Draining The Bar Where's The Playground, Susie Each And Every One I Didn't Know I Was Looking For Love My Head Is My Only House Unless It Rains I Don´t Want To Talk About it Love Is Here Where I Live Temperamental Meet Me in the Morning Wrong Single Walking Wounded

domingo, 19 de junho de 2011

É considerado normal…

1] qualquer coisa que nos faça esquecer nossa verdadeira identidade e nossos sonhos, e nos faça apenas trabalhar para produzir e reproduzir.


2] ter regras para uma guerra (Convenção de Genebra).


3] gastar anos fazendo uma universidade, para depois não conseguir trabalho.


4] trabalhar de nove da manhã as cinco da tarde em algo que não dá o menor prazer, desde que em 30 anos a pessoa consiga aposentar-se.


5] Aposentar-se, descobrir que já não tem mais energia para desfrutar a vida, e morrer em poucos anos, de tédio.


6] Uso de botox.


7] Procurar ser bem-sucedido financeiramente, ao invés de buscar a felicidade.


8] Ridicularizar quem busca a felicidade ao invés do dinheiro, chamando-o de “pessoa sem ambição”.


9] Comparar objetos como carros, casas, roupas, e definir a vida em função destas comparações, ao invés de tentar realmente saber a verdadeira razão de estar vivo.


10] Não conversar com estranhos. Falar mal do vizinho.


11] Sempre achar que os pais estão certos.


12] Casar, ter filhos, continuar juntos mesmo que o amor tenha acabado, alegando que é para o bem da criança (que parece não estar assistindo as constantes brigas).


12ª] Criticar todo mundo que tenta ser diferente.


14] Acordar com um despertador histérico ao lado da cama.


15] Acreditar em absolutamente tudo que está impresso.


16] Usar um pedaço de pano colorido amarrado no pescoço, sem qualquer função aparente, mas que atende pelo pomposo nome de “gravata”.


17] Nunca ser direto nas perguntas, mesmo que a outra pessoa entenda o que se está querendo saber.


18] Manter um sorriso nos lábios quando se está morrendo de vontade de chorar. E ter piedade de todos os que demonstram seus próprios sentimentos.


19] Achar que arte vale uma fortuna, ou que não vale absolutamente nada.


20] Sempre desprezar aquilo que foi conseguido com facilidade, porque não houve o “sacrifício necessário”, e, portanto não deve ter as qualidades requeridas.


21] Seguir a moda, mesmo que tudo pareça ridículo e desconfortável.


22] Estar convencido que toda pessoa famosa tem toneladas de dinheiro acumulado.


23] Investir muito na beleza exterior, e se preocupar pouco com a beleza interior.


24] Usar todos os meios possíveis para mostrar que, embora seja uma pessoa normal, está infinitamente acima dos outros seres humanos.


25] Em um meio de transporte público, jamais olhar diretamente nos olhos de uma pessoa, caso contrário isso pode ser interpretado como um sinal de sedução.


26] Quando entrar no elevador, manter o corpo voltado para a porta de saída, e fingir que é a única pessoa lá dentro, por mais lotado que esteja.


27] Jamais rir alto em um restaurante, por melhor que seja a história.


28] No hemisfério norte, usar sempre a roupa combinando com a estação do ano; braços de fora na primavera (por mais frio que esteja) e casaco de lã no outono (por mais quente que esteja).


29] No hemisfério sul, encher a árvore de natal de algodão, mesmo que o inverno nada tenha a ver com o nascimento de Cristo.


30] À medida que for ficando mais velho, achar-se dono de toda a sabedoria do mundo, embora nem sempre tenha vivido o suficiente para saber o que está errado.


31] Ir a um chá de caridade e achar que com isso já colaborou o suficiente para acabar com as desigualdades sociais do mundo.


32] Comer três vezes por dia, mesmo sem fome.


33] Acreditar que os outros sempre são melhores em tudo: são mais bonitos, mais capazes, mais ricos, mais inteligentes. É muito arriscado aventurar-se além dos próprios limites, melhor não fazer nada.


34] Usar o carro como uma maneira de sentir-se poderoso e dominar o mundo.


35] Dizer impropérios no trânsito.


36] Achar que tudo que seu filho faz de errado é culpa das companhias que ele escolheu.


37] Casar-se com a primeira pessoa que lhe oferecer uma posição social. O amor pode esperar.


38] Dizer sempre “eu tentei”, mesmo que não tenha tentado absolutamente nada.


39] Deixar para viver as coisas mais interessantes da vida quando já não tiver mais forças para tal.


40] Evitar a depressão com doses diárias e maciças de programas de TV.


41] Acreditar que é possível estar seguro de tudo que conquistou.


42] Achar que mulheres não gostam de futebol, e que homens não gostam de decoração.


43] Culpar o governo por tudo de ruim que acontece.


44] Estar convencido de que ser uma pessoa boa, decente, respeitosa significa que os outros vão pensar que é fraca, vulnerável, e facilmente manipulável.


45] Estar igualmente convencido que a agressividade e a descortesia no trato com os outros é que são sinônimos de uma personalidade poderosa.


46] Ter medo de fibroscopia (homens) e parto (mulheres).


47] Finalmente: achar que a sua religião é a única dona da verdade absoluta, a mais importante, a melhor, e que todos os outros seres humanos neste imenso planeta que acreditam em qualquer outra manifestação de Deus estão condenados ao fogo do inferno.


Fonte: Blog do Paulo Coelho

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Carta aberta da APOGLBT para a população brasileira, contra o conservadorismo e o fundamentalismo

Incluir e amparar indiscriminadamente todas as pessoas não seria o principio básico da religião?

Em 2010 mais de 260 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram assassinados no Brasil, em ataques tipificados pelas autoridades como crimes de ódio. Uma sociedade que vende para o resto do mundo uma imagem de “acolhedora” e “diversa” está com suas mãos sujas de sangue. Nós, brasileiros, carregamos o título de país líder em assassinatos e violência contra LGBT.
Aqui se mata mais homossexuais do que nos países islâmicos em que a homossexualidade ainda é condenada pela lei com a pena de morte. A semelhança entre o Brasil e nações como o Irã, Arábia Saudita e os Emirados Árabes é que aqui a pena de morte aos LGBT também se dá através da fé e da religião, que, na teoria, não têm poder de interferência em nossa constituição, porém, na prática, têm sistematicamente regido a tão profanada Lei dos Homens, que deveria ser isenta e igualitária.

É inegável que a conquista da cidadania tem avançado para a população LGBT; um mérito que não é apenas da militância e do movimento organizado, mas também da nossa sociedade como um todo, que tem se mostrado comprometida contra o preconceito e todas as formas de discriminação.

Porém, como toda ação gera uma reação, observamos o recrudescimento dos setores conservadores. Eis que vemos no Brasil o surgimento de uma mobilização capaz de unir fundamentalistas e extremistas de direita, religiosos e nazifascistas, que numa voz uníssona bradam contra os direitos humanos de milhões de cidadãs e cidadãos.

Antes, nossos algozes agiam na calada da noite, nos violentando em becos à surdina, como se, nos atingindo individualmente, pudessem nos exterminar pelas beiradas. Hoje, saem às ruas, fazem abaixo-assinados, manifestam-se na Avenida Paulista e marcham sobre a Esplanada dos Ministérios para barrar a garantia de nossa dignidade.

Trata-se de uma versão brasileira do movimento norte-americano “God Hates Fags”. A diferença é que, aqui, os que creem que “Deus odeia as bichas” são muitos, têm forte representatividade no Congresso, recebem a atenção da imprensa e, infelizmente, ganham adeptos.

Na história da humanidade, o nome de Deus não somente foi usado diversas vezes em vão, como serviu para respaldar a violência e morte de diversas minorias. A escravidão dos negros africanos, a condenação dos judeus e a perseguição às mulheres no período de “caça às bruxas” são exemplos disso. Como herança cultural, ainda temos estabelecido o patriarcalismo e a soberania de brancos como regras informais de nossa civilização ocidental contemporânea. A Inquisição ainda está viva no que diz respeito à homofobia, mas não só a ela.

Em tempos modernos, os inquisidores apenas trocaram a tocha e a fogueira pela lâmpada fluorescente, mas a condenação ainda ocorre em praça pública, consentida e assistida por muitos.

Há quinze anos, a primeira Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu 2 mil pessoas para dizer que “somos muitos, estamos em todas as profissões”. Nos dias de hoje, os mais de 3 milhões que nos acompanham, multiplicados pelas mais de 200 Paradas que ocorrem em todo o território nacional, reafirmam isso e vão além.

Estamos em todas as profissões, famílias, lares, escolas, esportes e igrejas. Sim, mesmo sem você saber, sempre existiu e sempre existirá um LGBT ao seu lado, a quem você jamais gostaria de saber ter sido vítima de bullying, humilhação, agressão moral, violência física, sexual ou homicídio. Incluir e amparar indiscriminadamente todas as pessoas não seria o principio básico da religião?

Se “quem ama conhece a Deus”, qual seria a determinação religiosa para aqueles que professam o ódio e a ira? Não é condenável levantar falsos testemunhos sobre a compreensão da complexidade humana, assim como sobre toda e qualquer ação que visa proporcionar o reconhecimento da existência de uma população comum? Se para os crédulos, Deus não faz acepção de pessoas e todos são iguais perante a Ele, porque insistem em nos manter à margem?

Respeitosamente, nos apropriamos da frase “Amai-vos uns aos outros” para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos, financiada pelas brasileiras e brasileiros que dão voz aos fundamentalistas e extremistas que ocupam as cadeiras do Parlamento e espaço nas mídias. Nós, os perseguidos, apesar de já estarmos calejados de oferecer a outra face, usamos de suas crenças para dizer: “Perdoai-vos. Eles não sabem o que fazem”.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Guerra Santa no fim do Arco-Íris

Com a tramitação da PL 122 no Congresso Nacional, grupos prós e contra a criminalização da homofobia se formam e ganham as ruas para defenderem seus interesses e ideais. Mas que ideais são esses? O direito de discriminar? A disseminação dos fundamentos cegos da fé? Em meio a todo esse caos, muitas asneiras são vomitadas na mídia diariamente sobre o tema. Coisas do tipo:


“Está claro, Deus criou o homem e a mulher.”

Alguém aqui está defendendo o amor livre entre minotauros, centauros ou unicórnios? Gays nada mais são do que homens que gostam de homens ou mulheres que gostam de mulheres. Simples assim. Ninguém aqui faz parte da mitologia grega ou é despatriado do País das Maravilhas.

“Não quero ver o meu filho de quatro anos beijando a boca de outro menino”

Tudo bem, que a partir da geração Z tudo tem se tornado cada vez mais precoce. Levando em consideração que o seu filho de 4 anos tenha pêlos no peito, tenha engravidado uma menina de 3 anos e 8 meses incompletos e resolva assumir-se gay, e fugir com o namorado Porto-riquenho para a Ilha de Caras, realmente você está certo em se preocupar com isso. 
Entenda uma coisa, o que você vê, com certeza não é o mesmo que o seu filho vê, e como já dizia Gonzaguinha: “Eu fico com a pureza das respostas das crianças.”

“Os padres não vão poder chamar a atenção de gays que se beijam no banco da igreja.”

A pergunta é. Quem? Quem vai a igreja pra beijar? Ultimamente nem em casamentos os noivos se beijam direito, isso quando se casam na igreja. Seja heterossexual, minotauro, homossexual, ou a noviça rebelde, a pessoa tem opções de lugares muito melhores pra fazer isso e muito mais, do que o banco de uma igreja. Não vamos considerar aqui, pois não é o objetivo, os casos de pedofilia envolvendo padres dentro da sacristia e os milagres da multiplicação financeira de alguns pastores de boa índole.

“Nós somos a favor da família.”

O que é uma família? Ter pai, mãe e irmãos? É isso? De onde vem esse conceito? Dos gibis da Turma da Mônica? Porque convenhamos que existem muitas “famílias” um tanto quanto diferentes por aí. Uma família, para um idoso abandonado em um asilo, por exemplo, são os seus companheiros que se encontram na mesma situação a espera da morte ou de alguma esmola sentimental dos parentes. O conceito de Família para um aleijado, pode ser o seu eterno par de muletas velhas. Uma família, pode ser composta por um filho e uma mãe solteira. Um avô e seu neto. Um pecador e sua bíblia. Pode ser formada por dois irmãos em um orfanato. Por um solitário e seu cachorro. Pode ser formada pela cafetina e suas putas. Por um ladrão e sua quadrilha. Para os felizes, família são seus amigos. Para os doentes, os seus remédios. Portanto, é preciso saber de qual família nós estamos falando, porque a convencional onde pais matam filhos e vice-versa, está caindo em desuso.

“Onde fica a minha liberdade de expressão?”

Nessa guerra não vamos ver nenhum gay matando um hétero por ele ser hétero. Assim como em outros conflitos da história, o bom senso sempre é utilizado por uma das partes. Cito aqui Wafa Sultan uma psicóloga árabe que participou de um debate na Tv Al Jazeera, ela disse: “Durante o nazismo e até hoje não vimos um único judeu explodir um restaurante alemão, não vimos um único judeu destruir uma igreja, não vimos um único judeu protestar matando pessoas.” ” Os muçulmanos transformaram três estátuas de Buda em pó e nós não vimos um único budista incendiar uma mesquita, matar um muçulmano ou queimar uma embaixada.” Você é livre para acreditar no que quiser. Você tem o direito de acreditar em pedras desde que não as jogue em mim. Liberdade de expressão é diferente de discriminação.


O que te incomoda ao ver dos homens ou duas mulheres de mãos dadas? No que interfere na sua vida um beijo homossexual? Dói? Será que é pelo mesmo motivo que houve escravidão no Brasil durante tantos anos? Pelo mesmo motivo no qual se maltrata impiedosamente os animais? Pelo mesmo motivo no qual há tanto desmatamento? Pelo mesmo motivo no qual, mulheres eram consideradas seres inferiores aos homens? Pelo mesmo motivo no qual os índios são vistos como vagabundos? Pelo mesmo motivo no qual a igreja queimava pessoas que iam contra os seus princípios?
Vamos brincar de fechar os olhos e ficar invisível. Com PL122 ou não, a homossexualidade vai continuar existindo. Vai te perseguir na sua igreja, vai estar dentro do seu trabalho, da sua casa, da sua escola e da sua família. E você, vai continuar com essa atitude não civilizada, pecadora e repugnante de julgar as pessoas, sem antes conhecê-las. Esse pensamento pré-histórico é o seu maior trunfo, fique com ele e faça bom uso. Gays e lésbicas continuarão sendo uma pedra no seu sapato enquanto Deus não te abençoar com o dom da inteligência e a sensibilidade na alma. 
O fato é que moramos na mesma casa, na mesma rua, na mesma cidade, no mesmo planeta. PAZ! Parem de matar gays apenas por serem gays, parem de pregar o ódio, a ignorância e a burrice. Parem de pregar o preconceito e a fé errônea. Por favor, parem de pregar a MORTE.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Onde as estradas se cruzam, se concentram duas grandes energias -- o caminho que será escolhido e o caminho que será abandonado. Ambos se transformam em um caminho só -- mas apenas por um pequeno período de tempo. O peregrino pode descansar, dormir um pouco, até mesmo consultar os deuses que habitam as encruzilhadas. Mas ninguém pode ficar ali pra sempre: uma vez feita a escolha, é preciso seguir adiante, sem pensar no caminho que deixou de percorrer.
Ou a encruzilhada se transforma em maldição."


(não sei quem é o autor, mas achei lindo!)

sábado, 21 de maio de 2011

Desabafo

E é assim que a vida faz com a gente, cria uma infinidade de expectativas só pra nos frustrar depois.
Não queridos, este não é um texto feliz ou motivador, não é um texto sobre o lado bom da vida. Esse é um texto triste, ressentido e cheio de mágoas, e se nesse momento você  esta vivendo uma fase muito boa da sua vida, passe pra frente, PARE DE LER! Esse texto não é pra você!
Esse texto é pra todo mundo que já sonhou, acreditou, pensou que as coisas finalmente iriam começar a melhorar, a seguir o seu rumo e te fazer feliz. Esse texto é pra quem se frustrou, chorou e percebeu que a realidade nunca é tão bonita quanto o sonho.
Mas eu acho que a gente é assim mesmo, otimista por natureza, e por conta disso vai errando durante o caminho. Se apaixona perdidamente pela pessoa errada, por que é carente e precisa ter alguém pra amar, trabalha naquilo que não gosta, por que as contas chegam todo mês e você tem cada vez mais responsabilidades.
Daí a gente vai ficando mais velho e as coisas vão piorando. As pessoas estão namorando, casando, separando, e você continua o mesmo solteiro de sempre, fazendo de conta que não se importa com isso, dizendo que adora a sua liberdade. Mas no fundo você chora no trem por que ouviu o garoto do seu lado falando ao telefone com o namorado.
E as pessoas estão trabalhando e tendo sucesso. Felizes em seus trabalhos, ganhando dinheiro, comprando coisas. E você continua naquela mesma vida de sempre, acordando quando mal acabou de ir dormir, se arrastando pra um dia infeliz que vai ser 90% do seu dia, e depois você volta pra casa pra tentar aproveitar os 10% que sobram, tentando fazer com que esses 10% façam os 90% valerem a pena. Mas nunca valem!
E enquanto você vai vivendo você vai errando, dando cabeçadas. Um belo dia você se apaixona e acha que a vida vai melhorar, que ela finalmente vai começar a valer a pena, afinal, o melhor da vida é o amor! E daí você vai alimentando esse sentimento, que ás vezes nem é por uma pessoa real, e sim por aquilo que você vai criando, aquela pessoa que você quer que exista de verdade, aquela pessoa que vai vir pra mudar a sua vida, pra fazer a diferença, pra te mostrar que a vida vale a pena sim, e que ela pode ser boa e vai ser.
Só que não é assim que a coisa funciona. Nenhuma pessoa vai ser a sua tábua de salvação, ninguém tem esse poder.
Daí você se frustra, daí você sofre, chora e se desespera, e depois você continua, volta ao ponto em que estava no inicio, com uma cicatriz a mais (já são tantas!), uma dor a mais pra esconder La no fundo do peito.
A verdade meu caro, é que talvez as coisas simplesmente não melhorem, talvez a vida seja só isso mesmo e essa coisa de ser feliz não seja pra todo mundo, essa coisa de amor não seja pra todo mundo, e o melhor a fazer é se conformar mesmo.
Só que eu sou uma pessoa racional, então eu sei que isso é só uma fase, sei que uma hora, quando eu não estiver esperando, tudo vai melhorar e eu vou ser feliz. Só que mesmo sendo racional, vai ficando cada dia mais difícil acreditar nisso.
Enquanto isso você fica ai e eu fico aqui, ambos vivendo essa vida que não é a que imaginamos, não é a que sonhamos, e nem a que desejamos. Mas é a vida que a gente tem pra viver. E a gente vai tentando acreditar que realmente uma hora tudo vai melhorar.
Eu já esperei um milagre, já tentei fazer um ... agora eu só espero, e nem sei direito o que eu espero, mas espero! Tentando não me conformar.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cantoras que você deveria conhecer: Lisa Marie Presley



Quem é?
Como assim quem é? PRESLEY!! É a filha do rei do rock, e como se não bastasse, também foi casada com o rei do pop!
Lisa é filha do Elvis, e mesmo com essa grande herança musical começou tarde no mundo da música. Apesar de desde o inicio o seu talento reconhecido, tanto como cantora quanto como compositora, nunca conseguiu fazer muito sucesso.
Pois é, ser filha do rei do rock pode até abrir muitas portas, mas também gera comparações enormes.

O que ela canta?
Lisa canta um pop/rock bem radiofônico, e faz isso com muito talento vocal, banda afinada e ótimas composições, quase todas de sua autoria.
Eu indico pra quem gosta de Sheryl Crow, só que Lisa é um pouco menos “caipira” e um pouco mais “nervosa”.

Por que ouvir?
Pra dar uma relembrada na época em que as mulheres rockeiras dominavam as paradas.

Por onde começar?
Lisa só tem dois álbuns lançados, e eu recomendo começar pelo primeiro “To Whom It May Concern” que é o que tem as melhores letras. Na verdade a impressão que fica é que Lisa ficou anos confabulando o que seria esse álbum, e quando entrou no estúdio, explodiu de tanto talento. Mas o segundo cd também é bem legal, e tem até uma participação da cantora Pink na faixa “Shine”. Vale a pena ouvir também o lindo dueto póstumo que Lisa fez com o pai, regravando a canção “In The Ghetto”.



quarta-feira, 13 de abril de 2011

“excelente pessoa”

Porque teve o cara que sumiu e nunca mais deu noticias
Porque teve aquele outro que disse que não achava legal começar um relacionamento comigo sem saber se continuaria no Brasil, e que começou um relacionamento com outro uma semana depois
Porque tem aquele que te acha uma “excelente pessoa”, mas na verdade queria dizer que até te acha uma pessoa bacana com  quem ele gosta de bater papo de vez em quando, mas que não passa pela cabeça dele a mais remota possibilidade de sair com você de novo
Porque tiveram todos aqueles que não queriam um relacionamento, mas que hoje estão em um
Porque teve a melhor amiga que não gosta de você
Porque teve um cara que ele conheceu na balada
Porque teve o ex
Porque ele não acreditava em relacionamento
Porque chega uma hora em que você começa a acreditar que talvez o problema seja você mesmo, e que essa coisa de amor não é pra você
Porque no fundo, por mais que você tente esconder isso até de si mesmo, você morre de medo de descobrir que isso talvez seja verdade.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sejamos Gays. Juntos.


Carol Almeida convida todos nós, de toda e qualquer orientação sexual, a participar do projeto #EuSouGay.
Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Tarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.
Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.
Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.
E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.
Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.
Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?
Quero então compartilhar essa ideia com todos.
Sejamos gays.
Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY
Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:
1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY
2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com
3) E só :-)
Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.
A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.
Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.
As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.
Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.
— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

terça-feira, 5 de abril de 2011

Quando seu amor foi violento?

Meu amor foi violento quando eu entendi que era o fim, mas que ainda não era o fim pra mim. Meu amor foi violento quando eu tive de sufocar tudo dentro de mim pra poder ver o outro feliz.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Aprender a ser só

Uma coisa que eu aprendi muito cedo na minha vida foi a ser só. A melodia morosa de Marcos Vale e Paulo César Vale nunca foi o samba enredo da minha vida. E, agora, depois de cabra véia e passada na casca do alho, como se diz por aqui, é que não será.

Aprendi a ser sozinha nos primórdios, ainda criança, quando na festa do dia dos pais da escola eu mesma tive que ir lá à frente da mesinha pegar o presente do meu pai porque confundi o dia da festinha e esqueci de faltar a aula. Aprendi a ser só durante a noite, quando minha mãe fazia faculdade e eu fingia que estava dormindo esperando caladinha a hora dela chegar. Aprendi a ser sozinha quando resolvi fugir de casa depois de uma grande briga de família, e, ainda que tenha voltado dois dias depois, o frio na barriga e o desespero da desproteção me fizeram levantar a cabeça e enfrentar a rua sozinha. Aprendi a ser sozinha quando me apaixonei por um garoto na escola e tinha muito medo que ele descobrisse que eu gostava dele. Ele era tão simpático, sorria pra mim na hora do intervalo e eu me apaixonei. Mas, aprendi a ser sozinha, quando ele passou na minha frente namorando a garota do Ensino Médio. Ah, também aprendi a ser sozinha quando perdi por meio milésimo de segundo a medalha de ouro em natação na especialidade que eu treinei o ano inteiro; perdi a medalha por meio milésimo de segundo nadando costas e não era a dor de ter perdido a medalha, era a dor de ter perdido no estadual para aquela menina que me soltava piadadinhas porque eu não era magrinha como ela. A solidão neste dia doeu. Aprendi a ser sozinha trancada no meu quarto, ouvindo o que eu gosto de ouvir, lendo o que eu gosto de ler. Aprendi a ser sozinha me dando prazer. Aprendi a ser sozinha viajando, correndo, falando, sozinha. Rá também aprendi com as futilidades, nas horas vagas que não tinha com quem brincar, conversar, beber. Aprendi a ser sozinha me decepcionando com as pessoas e jurando em lágrimas diante do espelho que nunca mais ia acreditar em ninguém e, quando menos esperei, me flagrei sorrindo sozinha por estar acreditando mais do que deveria em todo mundo. Aprendi a ser sozinha nas dores de amor. No medo do novo amor quando está chegando e no desespero do ex amor quando está partindo. Aprendi muito com a solidão acompanhada. Com a solidão durante o abraço, durante o beijo, durante. Aprendi que a solidão não tem nada a ver com a multidão de quem se tem ao redor e sim com a presença única e insubstituível de quem se tem distante. Aprendi que muitas tardes ensolaradas não me valeriam de nada se o outro dia não amanhecesse. Aprendi a ser só sendo amada, quando soube que o meu amor deveria ser independente do amor do outro. Aprendi a ser no silêncio, no barulho. Na falta de companhia no leito do hospital. Aprendi a ser só nas melhores situações. Nas piores aprendi. Aprendi tanto a ser só que tem horas que me abandono e nem me sinto falta. Aprendi e ainda me sinto. Mas sei sentir. Só.

Texto de Larissa Gabrielle no Blog "Laris."

fevereiro